Dos quatro blocos, três foram arrematados. Nos dois mais cobiçados, estatal precisou usar seu privilégio
RIO — Realizada no meio de uma ampla discussão sobre mudança na regulamentação dos preços dos combustíveis no país e poucos dias após a troca no comando da Petrobras, a 4ª do pré-sal foi marcada por um evento inédito. A estatal perdeu, pela primeira vez, a disputa por um bloco exploratório do pré-sal, o que a forçou a exercer o chamado direito de preferência para se manter como operadora da área.
Antes da disputa começar, o tema dos combustíveis veio à tona em declarações do ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, e do diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Décio Oddone. Em linhas gerais, a mensagem é que o governo não pretende intervir na política de preços da Petrobras, mas deve definir em consulta pública a periodicidade ideal dos reajustes.
Os comentários foram feitos um dia depois de o novo presidente da Petrobras, Ivan Monteiro, enviar um comunicado aos funcionários defendendo a política de repasse das oscilações nas cotações do petróleo e do dólar aos combustíveis para preservar as finanças da companhia. Na prática, tudo indica que a novela dos combustíveis ainda vai demorar para chegar ao capítulo final.
Abertos os lances, começaram as surpresas. A Petrobras não fez a melhor oferta pelo bloco mais disputado do dia, de Uirapuru. O lance vencedor partiu de um consórcio formado por Petrogal, Statoil e ExxonMobil, que ofereceu percentual de 75,49% de óleo-lucro à União. Posteriormente, a Petrobras decidiu se juntar ao grupo, como preveem as regras do leilão. A mesma coisa ocorreu na área de Três Marias. A Petrobras decidiu se juntar ao consórcio formado por Chevron e Shell, que fez oferta superior.
ENTENDA: O porquê de o pré-sal ser tão cobiçado pelas petrolíferas
Nas disputas sob o regime de partilha, vence quem oferece maior fatia da receita de comercialização do produto à União. O bônus de cada bloco é fixo. No caso de Uirapuru, por exemplo, ele somava R$ 2,65 bilhões.
Na avaliação da Agência Nacional do Petróleo (ANP), a mudança foi sinal de maior competição no setor. Em entrevista após o leilão, o diretor-geral da agência, Décio Oddone, afirmou que o resultado é um sinal de que o país precisa de mais competição e menos intervencionismo.
Este cenário, porém, não se repetiu em todos os lances do certame. A Petrobras ainda arrecadou a área de Dois Irmãos, mas a oferta foi pelo valor mínimo. Não houve disputa pelo bloco de Itaimbezinho. No total, foram leiloadas três das quatro áreas, e o governo arrecadou R$ 3,15 bilhões.